Princípios e Propósito da Vedanta - (Part 1)

Centro Ramakrishna Vedanta - BH
05.04.22 07:29 PM Comment(s)

​ Princípios e Propósito da Vedanta - (Part 1) 


Swami Paramananda (1884-1940), um discípulo de Swami Vivekananda, foi um dos pioneiros na divulgação da Vedanta no Ocidente

 Este texto é tradução do original em Inglês “Principles and Purpose of Vedanta” edição de 1910

Introdução -


Um princípio verdadeiro é aquele que não pode ser influenciado pelo tempo, espaço ou causalidade. Qualquer verdade fundamental pode suportar igualmente o teste de todas as épocas, pois a verdade é auto-existente e não é limitada ou dependente de estado, nação ou autoridade individual. Nem pode ser propriedade exclusiva de qualquer povo ou período. “Não há verdadeira existência no que é irreal e o real jamais pode ser inexistente; os Sábios da Verdade conhecem a natureza de ambos (Bhagavad Gita)”. Portanto qualquer verdade que brilhou no passado remoto será igualmente verdadeira hoje e nas eras que virão. Qualquer cultura, seja física, mental ou espiritual, que foi conseguida uma vez pelos esforços humanos, será sempre atingível por outros que virão depois. 


A verdade permanece, não por vãs declarações ou imaginações, mas pelo testemunho dos sábios Profetas de todas as épocas e climas. Portanto, por mais vago ou apagado um ideal possa tornar-se, ele não pode morrer, mas revela-se repetidas vezes através de poderosos caracteres, que buscam a realização do real. Nem mesmo uma simples verdade é perdida jamais. Ela pode por um tempo ficar escondida sob a superstição ou preconceito, mas brilhará com efulgência novamente quando a oportunidade certa chegar. Deste modo os princípios fundamentais dos Vedas, a religião e filosofia iluminada dos Arianos, podem ter sido diminuídos e considerados como meras lendas, mas por isso teriam sido menos efetivos para guiar as almas humanas à meta última da verdade e sabedoria?


A Vedanta e Sua Origem -


Vedanta origina-se de duas palavras sânscritas, Veda (sabedoria) e anta (fim), e significa “fim da sabedoria” ou suprema sabedoria. É o nome dado aos ensinamentos dos Vedas, que têm sido transmitidos a nós desde tempo imemorial. A característica especial da Vedanta é que ela é livre de todas as idéias exclusivas e sectárias e por essa razão tem espaço infinito para a tolerância. Não é baseada em qualquer personalidade, mas em princípios; portanto é propriedade comum de toda a raça humana. O estudo sincero, desta forma, nos capacita a reconhecer que todos os ensinamentos morais e espirituais das filosofias dos Gregos, Alemães e outras, não são novos ou originais, mas são encontrados na Vedanta; pois a Vedanta em si mesma é a revelação dos princípios fundamentais do universo. 


Ela surge, não de qualquer ser humano, mas de uma fonte divina. Ela não representa qualquer livro ou doutrina especial, mas explica os fatos eternos da natureza. Ela permanece como o registro da percepção espiritual direta dos antigos Rishis ou Profetas da Verdade, que não foram os fundadores de uma religião ou filosofia, mas os reveladores das leis eternamente existentes do universo. Como a lei da gravidade não se originou com Sir Isaac Newton, assim também estas leis não se originaram com os Rishis, mas têm existido desde o início do tempo e tinham sem dúvida sido descobertas por prévios Profetas da Verdade, pois os Vedas como os conhecemos estão cheios de referências à ainda mais antigas autoridades. Assim vemos que os princípios da Vedanta seguem em linha paralela com a própria criação e como a criação é eterna, são também assim estes princípios

Concepção de Deus -


Como fonte de todos estes princípios, a Vedanta reconhece um Ser Supremo, uma lei, uma essência, a quem os sábios chamam de Satchidanandam, “Existência Absoluta, Conhecimento absoluto, Bem aventurança Absoluta.” A partir desta substancia única manifesta-se estes múltiplos fenômenos. “Ele é o cordão no qual as diferentes pérolas de várias cores e formas estão amarradas juntas.” Deus, o Absoluto, é este cordão ou essência. Ele mora no coração de todos os seres como consciência; do menor átomo ao maior dos mortais, Ele está presente em tudo. Nele nós vivemos, nos movemos e temos o nosso ser. Sem Ele não pode haver nada. Ele é o Um sem um segundo. Não pode haver mais do que um Ser infinito, pois infinito significa sem limite, sem uma segunda coisa. Tal é a concepção védica de Deus e a realização deste Deus é a meta última de seu ensinamento.

Deus Pessoal e Impessoal -


Apesar de que o Ser Supremo é Um, Ele aparece diante de nós em muitas formas. Como está dito no Rig-Veda, “A Verdade é única, os homens sábios A chamam de vários nomes (e A adoram de diferentes formas de acordo com sua compreensão).” Aqui jaz o segredo da tolerância, que constitui a especial característica da Vedanta. Um Ser Infinito deve ter infinitos caminhos que levam a Ele. Estes infinitos nomes, formas e caminhos existem para se adequar as várias tendências de Seus inumeráveis filhos. Portanto Ele é algumas vezes pessoal e algumas vezes impessoal. Aqueles que buscam realizar a Ele como um ideal impessoal e abstrato, seguindo o caminho da discriminação filosófica, O veem no Ser e veem o Ser em todos os seres. Através disto eles transcendem todas as limitações humanas e encontram a paz e felicidade absoluta na unidade.


“Quando o conhecedor do Ser vê todos os seres dentro de si mesmo, como poderá haver mais sofrimento ou ilusão para ele que vê esta unidade?” (Upanishads) 


Para aqueles que não podem seguir o ideal abstrato, Ele aparece como um Deus pessoal, um Deus de infinito amor, infinita beleza, a fonte de todas as benditas qualidades. Com estes Ele estabelece a relação pessoal de Mãe amorosa, Pai amoroso, Filho ou Amigo; e aquele que sinceramente luta através deste caminho de adoração pessoal com amor e devoção verdadeiros, também atinge a realização do Supremo. Para isto deve ser sempre lembrado que a adoração de Deus Pessoal ou Impessoal leva-nos a mesma meta. 


“Qualquer um que venha a Mim (o Senhor) por qualquer caminho, Eu vou a ele. Todos estão lutando através de caminhos que ao final chegam a Mim.” (Bhagavad Gita)


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